segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Comentário sobre a leitura de: Improvisação para o teatro, de Viola Spolin

SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro; São Paulo: Perspectiva, 2005.


Viola Spolin, nascida em 7 de novembro de 1906, em Los Angeles (EUA), tendo como data de óbito 22 de novembro de 1994, foi autora e diretora de teatro, e é considerada por muitos como a avó norte-americana do teatro improvisado. Spolin sistematiza jogos teatrais, metodologia de atuação e conhecimento da prática teatral, que está presente em todos os fundamentos da atual comédia norte americana. Viola Spolin preparou-se inicialmente para ser uma assistente social trabalhando junto aos imigrantes de Chicago na Neva Boyd's Group Work School (Escola de Formação de Trabalho de Grupo de Neva Boyd), entre 1924-1927. Construindo os jogos teatrais a partir da experiência de Neva Boyd, Viola respondeu pelo desenvolvimento de novos tipos de jogos que focam na criatividade individual, adaptando e focando o conceito de jogo como chave para abrir a capacidade de auto-expressão criativa. Estas técnicas foram mais tarde formalizadas sob o nome de Jogos Teatrais ou Theater Games.




Em sua obra, Viola Spolin, traz uma nova concepção quanto à importância do teatro e da arte na vida das pessoas. Ela enfatiza, como esta, pode ser de grande ajuda na construção da identidade própria; abordando temas como ‘Aprovação/Desaprovação’, ‘ A Transposição do Processo de Aprendizagem Para a Vida Diária’, ‘Fiscalização’ e ‘Plateia’ a autora explica não somente como um professor deve agir para com seus alunos em diferentes situações, como também enfatiza a grande responsabilidade que recai nos ombros do mesmo quanto à elas. Dando uma ênfase maior à espontaneidade, Spolin carimba esta obra como resultado de seus estudos mais promissores sobre a auto expressão, que auxilia o individuo na construção do sujeito. Em suas palavras, qualquer um pode fazer teatro, obviamente, haverão aqueles com talento – facilidade para aprender rapidamente, e, haverão aqueles que darão duro para conquistar uma técnica a que não se poderá prender. Em todo modo, ou, de qualquer forma, aquele que se dispor a fazer esta leitura, perpetuará num mundo novo, onde convicções serão questionadas, responsabilidades serão redistribuídas e a arte será ensinada como aquela que não existe se não houver uma plateia.

Em seus textos se encontram várias teses, sempre defendendo a ideia do jogo de ludicidade para ajudar a desenvolver as habilidades e a espontaneidade do aluno, o estimulando, assim, na construção da sua identidade. Ao citar os jogos, Spolin frisa que o primeiro passo para jogar é sentir liberdade pessoal.

“É necessário ser patê do mundo que nos circunda e torá-lo real, tocando, vendo, sentindo o seu sabor e seu aroma. [...] A liberdade pessoal para fazer isso leva-nos a experimentar e adquirir autoconsciência (auto identidade) e auto expressão. A sede de auto identidade e auto expressão, enquanto básica para todos nós, é também necessária para a expressão teatral.”


Neste momento a autora inicia o tópico “Aprovação/Desaprovação”, que explica de forma sucinta o que acontece com os adolescentes em meio da procura pela auto identidade, com suas mentes confusas graças aos meios de aprovação e desaprovação impostos pela sociedade.

“Numa cultura onde a aprovação/desaprovação tornou-se o regulador predominante dos esforços e da posição, e frequentemente o substituo do amor, nossas liberdades pessoais são dissipadas. Abandonados aos julgamentos arbitrários dos outros, oscilamos diariamente entre o desejo de ser amado e o medo da rejeição para
produzir. Qualificados como ‘bons’ e ‘maus’ desde o nascimento (um bebê ‘bom’ não chora) nos tornamos tão dependentes da tênue base de julgamento de aprovação/desaprovação que ficamos criativamente paralisados.”


Com isto, então, ela inicia uma ampla descida para a questão do autoritarismo. Onde a questão recai sobre o professor, que seria a autoridade no recinto, mas que ao exerce-la, pode acabar afetando nitidamente o seu espaço produtivo, inibindo assim, a liberdade de expressão.

“A verdadeira liberdade pessoal e a auto expressão só podem florescer numa atmosfera onde as atitudes permitam igualdade entre o aluno e o professor, e as dependências do aluno.”


Dois pontos extremamente importantes na obra são os tópicos que abordam sobre a plateia e as técnicas teatrais. Quando fala sobre plateia Spolin é clara: se não há plateia, não há teatro. O teatro é uma arte que serve para ser vista, sendo totalmente voltada ao público, seja para satirizar, representar ou recriar a realidade. É a plateia que dá significado ao espetáculo. A autora frisa que ‘quando se compreende o papel da plateia, o ator adquire liberdade e relaxamento completo. Quando a plateia é entendida sendo uma parte orgânica, o aluno-ator ganha um sentido de responsabilidade para com ela que não tem nenhuma tensão nervosa.’ Já quanto às técnicas teatrais, Spolin sintetiza:
“As técnicas não são artifícios mecânicos – um saco de truques bem rotulados para serem retirados pelo ator quando necessário. Quando a forma de uma arte se torna elástica, essas ‘técnicas’ isoladas, que se presume constituíam a forma, então sendo ensinadas e incorporadas rigidamente. O crescimento tanto do indivíduo como da forma sofre, consequentemente, pois a menos que o aluno seja extraordinariamente intuitivo, tal rigidez no ensino, pelo fato de negligenciar o desenvolvimento interior é invariavelmente refletida em seu desempenho.”
Ou seja: Se prender somente a técnicas o limita, dentro da própria espontaneidade.

Comentário:

No decorrer de sua obra, Viola Spolin dá termos técnicos e didáticos para que se possa dar uma boa aula de teatro, fazendo sempre uma analogia com a realidade e com a realidade construída em cena. Uma leitura instrutiva e interessante, que me levou a crer, pessoalmente, que alguns trechos da mesma deveriam ter sido instruídos a muitos de nós a muito tempo. Assim, evitaríamos erros e entenderíamos coisas que se passam ao nosso redor, principalmente na adolescência, quando a sociedade cobra algo de você, que você sequer faz ideia se é você, se é certo ou errado, bom ou mal. Fazendo crer assim, que a arte está composta por todos os momentos da vida humana, e deveria ser usada com mais afinco para o estudo dela e em sala de aula, por ser algo essencial, como diriam os românticos, à alma.

Palavras chave: Arte; Teatro; educação; alunos; Spolin; sociedade; alma; técnica; plateia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário