sexta-feira, 22 de julho de 2016

Internet e Globalização: Ampliando o multiculturalismo ou criando uma cultura global?



 Há alguns anos, não mais que uma década, o tema de maior repercussão no mundo era a globalização. Talvez você lembre bem como era discutido, caía em concursos, vestibulares, na escola. Era o tema principal, das conversas, pois havia acontecido um 'bum' graças à internet, e, as redes sociais começando a se popularizar; o que gerou um grande choque quando as culturas, e pessoas, do mundo inteiro começaram a se comunicar ao mesmo tempo, numa velocidade absurda sem sequer saírem do lugar.
 Bom, o  processo de globalização é um fenômeno do modelo econômico capitalista, o qual consiste na mundialização do espaço geográfico por meio da interligação econômica, política, social e cultural em âmbito planetário. Podemos dizer que foi iniciado, por baixo dos panos, com a expansão marítima nos séculos XV, XVI e XVII, e intensificado com o surgimento da internet, nos anos noventa, tomando uma proporção enorme com o surgimento das redes sociais anos depois. 
 Com a vinda das redes sociais o multiculturalismo cresceu de forma absurda, e num país como o Brasil, com uma diversidade cultural já muito abrangente, não foi diferente. Mas, desta vez, ao invés de povos trazerem suas culturas e acabarem mesclando com as locais, em suas imigrações, as culturas estavam entrando pela aculturação de jovens usuários da rede. Ícones da cultura norte- americana, coreana, japonesa, asiática e européia e tornaram populares e cada vez mais significantes entre os adolescentes. Onde a cultura nacional começou a se miscigenar com outras culturas, surgindo aos poucos, cidades e  ícones globais, alimentando a crença de que a cultura global pode está se tornando uma só. Uma cultura global.




terça-feira, 12 de julho de 2016

Trovadores nordestinos




  Quando eu era criança, meu pai me levou para uma feira, e, na mesma havia um senhor senado num banco, com um chapéu na cabeça para o livrar do sol quente, e, uma espécie de varal.  Só que este varal não era para roupas, lençóis ou qualquer tecido que ali pudesse repousar; eu, para meu maior encanto, estava diante de um varal de cordéis. Eram livrinhos pequeninos e muito coloridos, com os desenhos mais diferentes de tudo o que eu, em meus oito anos, já havia visto. Neles, versos das mais divertidas poesias, que eu aprendi a admirar, contavam a rotina, as aventuras, os mitos e até mesmo crônicas de quem vivia na caatinga. Hoje, mais de dez anos depois ainda me encontro encantada com esta, que eu descobriria ser, a literatura de cordel.
A Literatura de Cordel é uma modalidade impressa de poesia, que já foi muito estigmatizada mas hoje em dia é bem aceita e respeitada, tendo, inclusive, uma Academia Brasileira de Literatura de Cordel (link). Descobri recentemente que aqueles que escrevem os livretos de cordel se denominam trovadores, assim como os antigos poetas europeus da idade média! Poderíamos então dizer que a literatura de cordel teria resquícios  do trovadorismo, que se enraizaram na cultura nordestina o dando um sabor brasileiro?
  De fato, é algo que podemos pensar, pois assim como o movimento uma das principais características da produção é a manifestação da opinião do autor a respeito de algo na sua sociedade. Os cordéis não tem  a característica de serem impessoais ou imparciais, muito pelo contrário, na maioria das vezes usam técnicas de persuasão e convencimento para que o leitor acate com a ideia proposta, como em muitas cantigas de escárnio e mal dizer características do período decorrente entre os séculos XII e XV.


 Eis um cordel fantástico que retrata um pouco deste fato:

 NORDESTE: AQUI É O MEU LUGAR

Vou falar do meu lugar

Terra de cabra da peste
Terra de homem valente


Do sertão e do agreste
Terra do mandacaru 
Do nosso maracatu
Meu lugar é o Nordeste!

Meu Nordeste tem riquezas
Só encontradas aqui 
Sua música, sua dança
Sua gente que sorri
Nosso povo tem bravura
Tem tradição, tem cultura
Da Bahia ao Piauí.




A nossa música é linda
Temos coco e embolada
Aboio e banda de pife
Poesia improvisada
Axé, repente, baião
O forró do Gonzagão
Que faz a maior noitada.



Frevo, xote e xaxado
Violeiro, canturia
O martelo agalopado
O cordel e a poesia
O cantador de viola
Fazendo versos na hora
Pra nos trazer alegria.



Nossa dança é muito rica
E bastante popular
Tem ciranda, afoxé
Para quem quiser dançar
Bumba-meu-boi, capoeira
Essa dança brasileira
Querida em todo lugar.



Tem baião e tem forró
Pra dançar agarradinho
Tem maracatu, congada
Tem o cavalo-marinho
Festa junina animada
Pra toda rapaziada
Namorar um “bucadinho”.        


Nossa culinária é rica
Em tradição e sabor 
Tem cuscuz, tem macaxeira
Que têm um grande valor
Tem o xinxim de galinha
Rapadura com farinha


Tudo feito com amor.

Do bode tem a buchada 
Carne de sol com pirão
O mocotó, a rabada
O bobó de camarão
Bredo no coco, paçoca
Vatapá e tapioca
Venha provar o qu’é bão.


Temos doce bem gostoso
Como o Bolo de Fubá
A cocada, a rapadura

O quindim e o mungunzá
Temos Beijinho de coco
Que deixa qualquer um loco

Venha aqui saborear.

As festas do meu Nordeste
Têm alegria e calor
O carnaval de Olinda, 
De Recife e Salvador 
Em Natal o “Carnatal”
Em Fortaleza o “Fortal”
Micaretas de valor.

Quando chega o São João
A "disputa" é pra valer
A "Capital do Forró"
Todos querem conhecer 
Caruaru tem beleza
Campina Grande destreza
Para o forró não morrer.

Terra de Alceu Valença
E de Jackson do Pandeiro
Terra de Luís Gonzaga
Esse grande brasileiro
A terra de Elba Ramalho 
E também de Zé Ramalho
Famosos no mundo inteiro.
 

A terra de Virgulino
O famoso Lampião
A terra de Vitalino
Rei do barro feito à mão
A terra do “Padim Ciço”
Dos milagres, “dos bendito”
Do poder da oração.

Piauí da Pré-História
Bahia do candomblé
Paraíba das cachaças
Em Sergipe eu boto fé
Pernambuco tem o frevo

Alagoas tem segredo
Vá descobrir o que é.
Maranhão é o estado
Pra dançar bumba-meu-boi
Ceará do “Padim Ciço”
Só conhece quem já foi
No Rio Grande do Norte
A cultura é muito forte
Vá! Não deixe pra depois.

Essa terra é muito boa
Dela ninguém me separa
Tem tudo pra se viver
Uma culinária rara
Uma beleza campestre
Só deixo o meu Nordeste
No último pau-de-arara.

Autor: Carlinhos



E é com este poema, em forma de cordel, de um nobre trovador nordestino que eu deixo vocês por hoje.
Até a próxima.

Lara Oliver.